Brasil profundo
Pesquisadores do Amapá encontram poço funerário construído há quase mil anos por povos indígenas
Déborah Araujo
O poço encontrado tem uma forma inédita: são várias câmaras mortuárias para sepultamentos simultâneos ao invés de uma câmara separada. Os restos mortais eram sepultados em urnas feitas de cerâmica pertencentes à etnia Palikur, e colocadas nas câmaras. O local teria sido construído por povos indígenas que habitaram a região entre 1.000 e 1.300 da nossa era. “Esse poço está muito distante da área onde geralmente se conhecia sua ocorrência. É a primeira vez que encontramos diversas câmaras laterais onde foram encontradas as urnas”, explica João Darcy de Moura Saldanha, arqueólogo do Iepa e coordenador da pesquisa. A descoberta foi feita em um sítio arqueológico de quatro hectares, em 2010, a cerca de dois quilômetros da comunidade quilombola do Curiaú, na zona norte de Macapá.
Os vestígios encontrados – materiais cerâmicos e ossos humanos – até agora estão em processo de análise no laboratório de Arqueologia do Iepa, em Macapá. “Queremos, em parceria com a comunidade do Quilombo do Curiaú, montar uma pequena exposição com os materiais mais representativos, uma forma de dar um retorno com informações da história do território de ocupação no próprio território”, ressalta o arqueólogo. Essa proximidade do sítio arqueológico indígena pré-cabralino como quilombo construído na região no século XIX também é um destaque para a pesquisa, uma vez que “a presença de comunidades quilombolas na região Amazônica ainda é um tema pouco estudado”, observa Eduardo Góes Neves. Uma proximidade entre tradições materiais que, literalmente, é uma das bases do Brasil.
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